Nossas imperfeições

Data07/02/2019 CategoriaAutoconhecimento

O poeta Manoel de Barros dizia que para entender a intimidade do mundo era preciso desinventá-lo. A ideia da frase é dar importância àquilo que achamos desimportante, que muitos não valorizam, que tem um valor difícil de ser percebido.

O ‘ser’, por exemplo, para muitos é algo pouco valorizado, mas prestar atenção nisto talvez seja o primeiro passo para conhecer nossa intimidade e é nela, na maioria das vezes, que esconde-se em nosso avesso, onde nem tudo é perfeito e bonito como pintamos. A descoberta que se propõe é que dentro dessa possível imperfeição que todos somos há espaços vazios, abertos, à espera do encontro que pode ser o mais importante de nossas vidas, com nós mesmos.

Há inúmeros relatos de pessoas que se propõem a se conhecer e encontram em suas imperfeições uma grande oportunidade de aperfeiçoamento. Artistas natos que por alguma dificuldade motora, visual ou sensorial, ou por alguma mudança brusca em suas vidas, buscaram dentro de si a sensibilidade para se desenvolverem emocionalmente e se tornaram referência em suas áreas de atuação.

Muitos relatam que quando se permitiram navegar por mares internos nunca navegados, iniciaram o processo de aceitarem-se imperfeitos, de terem a sensação de serem obras inacabadas e se sentiram confortáveis com esta descoberta, que lhes deu novas perspectivas de vida.

Para a psicoterapeuta Gilla Bastos, toda pessoa para viver em sociedade quer pertencer a grupos e estar dentro dos padrões sociais aceitos, e com isto acaba por esconder seu lado imperfeito. “Só que ele é a nossa parte mais humana”, afirma. Para ela, aceitar-se incompleto é também deixar os nossos vazios existirem, mas envoltos de afetos, de compreensão e de amor. “É na imperfeição que encontramos a nossa subjetividade. E é nas brechas do imperfeito que há espaço para a existência e o convívio com o outro”.

Aceitar que não somos perfeitos pode fazer de nós o que somos, e o desconhecido que somos para nós mesmos pode nos surpreender. E neste nosso avesso pode estar guardada nossa plenitude, nossa felicidade, nosso ser de verdade. O imperfeito nos ensina a beleza da simplicidade e é ela que pode nos empurrar para a transformação e o crescimento. Manoel de Barros também escreveu que são os nossos olhos que renovam o mundo.

Adriana – CVV Araraquara -SP

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