“Você prefere ficar sozinho, sem nada para fazer, ou levar pequenos choques?”. O questionamento, feito em uma pesquisa, pode parecer absurdo, mas, de acordo com a revista científica Science, que publicou o levantamento há alguns anos, muita gente prefere levar choques a enfrentar alguns minutos a sós com os próprios pensamentos.
O resultado do estudo, que envolveu 220 voluntários em 11 testes, surpreendeu até seu coordenador, o psicólogo Timothy Wilson, da Universidade da Virgínia (EUA). “Antes do estudo, pensei que éramos capazes de usar nossos cérebros para gerar pensamentos agradáveis, recuperar lembranças felizes. Mas não foi assim”, disse, em entrevista.
Quando desafiadas a ficar de seis a 15 minutos sem companhia (nem mesmo do celular), 57% das pessoas afirmaram ter dificuldades para se concentrar, 89% disseram que a mente vagou e 49% não gostaram da experiência. O outro teste, que abordou os choques, 67% dos homens e 25% das mulheres preferiram o mecanismo a ficar a sós.
De acordo com a psicóloga Lívia Godinho Nery Gomes, professora da Universidade Federal de Sergipe, a onipresença da tecnologia soma-se a outro fenômeno, que também ajuda a deixar os momentos reflexivos mais raros: a necessidade de estar sempre disponível. “Há um apelo muito grande para estar em rede, compartilhar. Quem está de fora sente que está perdendo alguma coisa”, relata.
Para o psicólogo Roberto Novaes de Sá, professor da UFF (Universidade Federal Fluminense), a tecnologia pode até criar mais obstáculos para quem quer ficar só com os próprios pensamentos, mas o fato é que isso nunca foi fácil para a maioria das pessoas. “Nossa noção de realidade, de estabilidade e de segurança é construída socialmente, através das relações com os outros e das ocupações. Quando não estamos inseridos em alguma atividade, há um sentimento de não realização, fragilidade e angústia”, afirma.
Segundo a pesquisa, esse sentimento parece afetar mais os homens do que as mulheres, o que não surpreende os pesquisadores. Não gostar do rumo dos pensamentos é uma das hipóteses levantadas pelos autores do estudo para explicar esses resultados. “É como se a mente nos dominasse e fôssemos absorvidos pelas ideias”, diz a neurocientista Elisa Kozasa, pesquisadora do Instituto do Cérebro do Hospital Israelita Albert Einstein. Para ela, a reflexão só é benéfica para a saúde mental se tiver um método e um objetivo, como na meditação.
Já para a psicóloga Luci Helena Baraldo Mansur, membro da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, tentar ficar só sem se sentir sozinho é fundamental. “O tempo do silêncio e da quietude é um tempo que conduz à criatividade, e não a esse vazio tão temido. É quando podemos ouvir nossa voz interior”, afirma.
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Adriana
CVV Araraquara (SP)