Apenas dois métodos são comprovadamente eficazes na prevenção do suicídio: a) falar sobre suicídio, informando a população sobre sinais, fatores de risco e tratamento; b) impedir o acesso fácil a métodos de suicídio (veneno, medicamentos, armas de fogo, corda, etc) e criar barreiras em pontes ou prédios que se tornaram locais de referência para a prática. É o que afirma o Dr. Rafael Moreno, Coordenador do Comitê de Prevenção do Suicídio da Associação de Psiquiatria do Rio Grande do Sul, participante do VII Simpósio Internacional de Prevenção do Suicídio, realizado pelo CVV em Porto Alegre/RS, em 01 de setembro de 2017. O médico apresentou alguns dados retirados de estudos internacionais e também coletados em Arroio do Meio/RS, cidade com maior índice de suicídios do Brasil, onde atua como coordenador da residência em psiquiatria.
Quando se fala em prevenção do suicídio, a maioria das pessoas pensa apenas no que vem muito antes do suicídio, mas é preciso ter em mente que existem três tipos de prevenção: identificar os fatores de risco de suicídio; encontrar os indivíduos em risco de suicídio e agir de forma precoce; e realizar tratamentos em pessoas que já tentaram ou cogitaram seriamente o suicídio.
Quanto aos fatores de risco, o psiquiatra explica que o suicídio é multifatorial, não sendo decorrente de uma única razão. A maioria das pessoas justifica o suicídio pelos fatores primários, como brigar com o (a) namorado (a), perder um parente, ficar desempregado, etc, sem considerar que todos passam por situações assim, mas apenas uma pequena parcela consuma o suicídio, em razão de outros fatores.
Os fatores genéticos são muito relevantes, correspondendo a 50% do risco, ou seja, aqueles que se matam já vem com esta carga genética e imutável, uma predisposição que, no entanto, pode ser potencializada ou amenizada pelos fatores ambientais, como história familiar, gênero, situação econômica, inclinação ao pessimismo e desesperança, uso abusivo de drogas e álcool, doenças graves ou incapacitantes.
Outro aspecto importante é a existência de transtornos psiquiátricos, que estão constantemente associados ao suicídio. As pesquisam apontam que os principais são os transtornos de humor, como depressão e bipolaridade. A idade é também um fator a ser considerado: países com baixo ou médio desenvolvimento econômico têm maior índice entre jovens, que podem ficar muito angustiados quanto ao seu futuro. Em países desenvolvidos, por sua vez, há predomínio de suicídio entre pessoas a partir de 50 anos.
É um fator de risco dos mais importantes a pessoa já ter tentado o suicídio, pois é comum que tente novamente. A automutilação seria ainda uma situação de atenção, pois a pessoa vai se acostumando com a dor, até chegar a um ponto em que adquire a coragem de tirar a própria vida. Por fim, o médico aponta os traumas como um gatilho importante para o suicídio, pois, especialmente na infância e adolescência, as tentativas estão relacionadas a algum trauma, como abuso emocional e sexual e também a negligência emocional.
No quesito identificação dos indivíduos em risco de suicídio, Dr. Moreno aponta a necessidade de capacitar os profissionais da saúde em geral e não só aqueles que trabalham na psiquiatria, mas sim profissionais que estão mais em contato com a comunidade, como agentes comunitários de saúde, que podem fazer o rastreamento pessoas em situação de risco, a fim de encaminhá-las para tratamento, que será conduzido por profissionais da área da saúde mental e emocional.
A palestra completa pode ser localizada na página do CVV no Facebook.
Luiza
CVV Belém/PA