Na cultura do individualismo e da ambição, na qual estamos constantemente ocupados, nos comportamos como se não tivéssemos tempo a perder com nada que não nos traga benefícios práticos e imediatos, como prestar atenção nas pessoas ao nosso redor e nos preocuparmos com seus problemas.
Fala-se bastante em empatia, mas muitos preferem se afastar daqueles que não superam rapidamente suas dores, que falam constantemente de seu sofrimento e buscam conforto nos amigos, sendo eles comumente rotulados de “pessoas tóxicas” (que existem, mas não podem se confundidas simplesmente com indivíduos que expressam seus sentimentos). Muitas vezes, acreditamos inclusive que estas pessoas nos atrapalham em nossos objetivos e procuramos apenas companhias “positivas”, que nos inspiram, nos “puxam para cima”, como nos ensinam alguns manuais sobre qualidade de vida.
Para estimular as pessoas a ouvir mais, o Urban Confessional (Confessionário Urbano, em tradução livre) oferece escuta gratuita em 15 países, por voluntários que seguram a placa de “Free Listening” em pontos movimentados das cidades.
O movimento parte da premissa que ouvir é poderoso porque requer que estejamos verdadeiramente presentes, com nossa atenção voltada para o outro, e que quando duas pessoas experimentam a comunhão que emerge da presença mútua, o efeito é sentido por quem escuta e por quem fala. Quando isto acontece, a escuta gratuita se transformaria em uma companhia gratuita e isso é poderoso. Por isto o lema do movimento: “ser ouvido é tão próximo de ser amado que muitas pessoas não sabem dizer a diferença”.
A verdade é que muitas vezes estamos tão envolvidos em nossas atividades e problemas que escutamos os outros como escutamos o rádio, prontos para mudar de estação quando a música não agradar. Não ouvimos verdadeiramente o que o outro está nos comunicando e não nos colocamos inteiramente disponíveis para compartilhar suas experiências, triunfos, fracassos, corações partidos e superações.
O CVV – Centro de Valorização defende essa ideia e se coloca à disposição para ouvir aqueles que o procuram desde 1962, com voluntários espalhados por todo o Brasil e que proporcionam uma conversa anônima, sigilosa e sem julgamentos, para que todos se sintam à vontade para compartilhar seus sentimentos.
Que tal ouvir alguém atentamente hoje? Parafraseando José Saramago, em seu Ensaio Sobre a Cegueira, se podes escutar, ouve; se podes ouvir, repara.
Luiza
CVV Belém
*Precisando conversar? Acesse www.cvv.org.br/23 e veja as formas de atendimentos disponíveis.