Existe uma linha tênue entre persistência e insistência, que muitas vezes cruzamos sem nos darmos conta de qual caminho deveríamos seguir. É comum ouvir: “Desistir não faz parte do meu vocabulário!”. A frase indica uma postura que pode significar uma grande força interior da pessoa, digna de respeito, ou denunciar uma teimosia pouco saudável e, neste caso, não merecedora de admiração, pois pode colocar quem age assim em situações de risco físico e emocional.
Em alguns momentos, o impasse entre persistir ou não frente a uma situação pode nos levar à reflexão sobre os nossos limites. Até que ponto persistir é sinal de determinação e confiança, e em que momento ultrapassamos a linha da prudência e entramos na insistência, com a perda da capacidade de analise mais racional?
Socialmente, a persistência tem sido é exaltada. A desistência normalmente não é bem vista. Se pesquisarmos em qualquer buscador sobre artigos de persistência e determinação serão inúmeros os resultados, enquanto que o termo desistência e suas derivações exibe poucos itens significativos. São vários depoimentos de desconhecidos que se tornaram heróis pela capacidade de superar obstáculos e não desistir jamais. Verdadeiros legados da força de vontade, exemplos a serem seguidos.
A persistência é valiosa, não só pela ação que resulta, como também pelos exemplos que deixa. Determinação, persistência, resiliência e força de vontade são ingredientes essenciais das conquistas humanas, da satisfação pessoal, da vida em excelência. Mas a reflexão é o dar-se conta da diferença entre a persistência e a teimosia, o que é sutil e bastante delicado. Esta avaliação pode nos levar a sentimentos ambivalentes, ora confiantes, ora desanimados. E isso pode transtornar nossa vida se perdurar por muito tempo.
Eugenio Mussak, articulista da Revista Vida Simples, usa o exemplo dos empreendedores para explicar um pouco sobre o assunto. No geral, empreendedores são consideradas pessoas destemidas que têm uma ideia e mobilizam meios para tornar realidade os sonhos. Eles são fundamentais à economia e ao progresso. Costumam envolver diversas pessoas e apostar alto em um projeto, algo individual que pode se transformar em objetivo coletivo. Quando se lançam à competitividade do mercado carregando na mochila ideias, sonhos e determinação, rapidamente percebem que precisam de algumas armas para sobreviver, e uma delas é a estratégia. E faz parte dela considerar o momento de retroceder.
Se extrapolarmos do mundo dos negócios para a nossa vida, em ambos especialistas costumam reforçar a importância de rever as estratégias e mudar os planos. Isso significa fazer diferente, desistir do que se pretendia e criar uma nova meta. Não há nada de errado nisso. É a aplicação da desistência a favor da conquista. Tentar é necessário. Não conseguir é frustrante, mas faz parte da tentativa. Levantar a cabeça e seguir em frente pode ser dignificante, reinventar-se pode ser glorioso. Saber o momento de mudar de rumo, de se abrir para novos horizontes nem sempre é fácil, pois significa desistir de algo que aparentemente era um desejo, mas, por outro lado, não lhe trazia bem estar. Se enganar, mudar de ideia e de rumos faz parte da nossa condição humana de lida com sentimentos e razões para sobreviver e viver.
Adriana
CVV Araraquara (SP)
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