Nos últimos tempos, o CVV verificou um crescimento no número de atendimentos a jovens que praticam a automutilação, o que é confirmado por pesquisas recentes, que indicam uma tendência de aumento da prática entre adolescentes, especialmente entre as meninas de 13 a 17 anos. Fala-se, inclusive, em uma epidemia, dado o seu rápido avanço.
Muitos psiquiatras relacionam essa tendência à internet, onde é possível encontrar grupos que incentivam a prática do cutting (do verbo “cortar”, em inglês), informam sobre métodos mais eficazes, comemoram aniversário das cicatrizes e relatam suas experiências com um certo glamour, competindo com outros participantes sobre quem sente mais dor.
O psiquiatra Olavo de Campos Pinto, membro do International Mood Center e ex-professor da Universidade da Califórnia (EUA), considera que a internet tem papel preponderante na disseminação atual da prática. Segundo ele, os adolescentes tendem a assumir comportamentos de grupo altamente perigosos, por não terem personalidade formada. Os fóruns virtuais e as redes sociais atuariam como multiplicadores.
Há um consenso entre os profissionais de que a automutilação é encarada pelos seus adeptos como uma forma de lidar com os problemas e as frustrações, pois desvia momentaneamente a atenção da dor emocional para a dor física. Há, portanto, um alívio imediato, seguido de culpa, vergonha e arrependimento. O praticante, contudo, costuma voltar a se cortar, quando sente necessidade de fugir novamente de suas aflições e ansiedades, correndo o risco de agir compulsivamente.
Na internet, é possível localizar relatos de jovens que se cortam como forma de autopunição, por não cumprirem metas que determinaram para si, como alcançar boas notas, entrar na universidade, emagrecer ou ser aceito em determinado grupo social. Também é comum nos casos de depressão ou distúrbios de autoimagem.
Desde 2013, o Manual Diagnóstico e Estatístico de Saúde Mental da Associação Americana de Psiquiatria (DSM-V) considera a automutilação um transtorno autônomo, dissociado de outras síndromes. No entanto, é possível identificar muitas semelhanças entre o comportamento do suicida e daquele que agride o próprio corpo. Em ambos, a intenção predominante é a de cessar a dor emocional e não simplesmente de fazer mal para si. Além disso, costuma ser um pedido de socorro, uma tentativa de chamar a atenção daqueles que estão ao redor sobre o sofrimento que se está vivenciando.
Especialistas mencionam alguns sinais de que o jovem esteja se automutilando, aos quais pais, educadores e a sociedade em geral devem estar atentos, sendo os principais a mudança repentina de comportamento e o uso constante de roupas que escondem o corpo, especialmente os braços e pulsos, mesmo em calor intenso.
Por se tratar de um transtorno mental reconhecido, o tratamento mais indicado é o profissional, com um psiquiatra, mas o voluntário do CVV pode colaborar, tendo uma abordagem baseada na compreensão e no não julgamento. Ao estabelecer um diálogo de confiança com alguém, é possível que a dor emocional seja colocada para fora sem a necessidade de utilizar os cortes como analgésico.
Luiza
CVV Belém – PA