Violência de gênero e suicídio

Data26/09/2018 CategoriaAutoconhecimento

Os números divulgados pelo Ministério da Saúde, que mostram mais uma vez o aumento dos casos de suicídio no Brasil, 11.433 mortes em 2016, trazem ainda outro importante indicador: o crescimento no número de tentativas, sobretudo entre as mulheres. O total de registros por intoxicação exógena, o envenenamento, quintuplicou em dez anos, passando de 5.264 em 2007 para 26.251 em 2017. Foram quase 154 mil mulheres que tentaram suicídio dessa forma. Ou, dito de outra maneira, em cada dez tentativas de suicídio por intoxicação, sete foram de mulheres.

A violência de gênero contra a mulher é apontada como importante fator de risco. Esposas, companheiras, mães, namoradas, amigas são tão vítimas quanto crianças e adolescentes. A partir dos 9 anos já pode ser constatado o aumento constante de tentativas entre elas, com pico dos 14 aos 19 anos. O Ministério da Saúde avalia que boa parte desses suicídios está relacionada a questões intrafamiliares, inclusive de violência sexual. Apesar de a violência ser determinante, não é a única causa. O desemprego e a pobreza também entram neste cenário.

Os especialistas dizem que o número de tentativas  supera em pelo menos dez vezes o de suicídios. A subnotificação é reconhecida por autoridades de saúde não só do Brasil, mas do mundo todo. Um dos fatores de risco mais relevantes para o suicídio é justamente a tentativa prévia. O senso comum de que quem tenta não quer morrer está longe de corresponder à realidade. A pessoa precisa ser acolhida, receber o apoio e o tratamento adequados. Cada tentativa é um recado de que o sofrimento ultrapassou em muito o tolerável. No caso das mulheres vítimas de violência, a demonstração clara de não encontrar saídas para o abuso cotidiano.

Se a violência precisa ser combatida com urgência, a restrição aos meios letais também precisa ser encarada como importante questão de política pública de prevenção. O controle de armas de fogo funciona no Brasil, mas, em contrapartida, o acesso a agrotóxicos enfrenta poucas barreiras. A legislação é frágil ou inexistente.

Mesmo frente a essa realidade, ainda é frequente o questionamento sobre o porquê de falar sobre suicídio. O problema é inegavelmente de saúde pública, segunda maior causa de morte entre jovens do sexo masculino na faixa etária entre 15 e 29 anos. Não se mudam os cenários sem prevenção, e prevenção é algo que se constrói ao longo de anos para se ver os resultados.

É preciso, sim, discutir o assunto, abrir espaço para que a pessoa fale sobre a dor psíquica que a faz acreditar que pode se livrar deste sofrimento pela morte. Não há dúvidas que na maior parte dos casos há prevenção, em pelo menos 90% deles segundo a Organização Mundial da Saúde. E com setembro, mês de conscientização, acabando, fica o convite para que o tema permaneça em pauta e que cada um de nós contribua para quebrar esse tabu também nos outros 11 meses.

Leila
CVV Brasília

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