O sofrimento e os abalos emocionais decorrentes de preconceito e da sensação de não pertencimento dos grupos vulneráveis, também chamados de minorias, podem contribuir para o suicídio. O isolamento social e a estigmatização muitas vezes fazem parte do cotidiano de negros, LGBTs e gordos, para citar apenas alguns grupos. Este foi um dos temas debatidos pelo CVV no VIII Simpósio Internacional de Prevenção do Suicídio, em Belo Horizonte.
O youtuber Bernardo Boechat, militante do movimento BodyPositive, observou que pessoas gordas têm que lidar constantemente com um julgamento sobre seu caráter, pois muitas vezes são simplesmente consideradas preguiçosas, sem força de vontade e incompetentes. Além disso, encaram transtornos cotidianos como a inadequação do mundo aos seus corpos. São móveis que lhes deixam desconfortáveis, roupas que são pensadas apenas para pessoas magras, etc.
Outro equívoco comum, apontado por Bernardo, é a ligação direta entre obesidade e doenças. Ele não nega que a obesidade pode ser fator de risco para problemas de saúde, porém, assim como não é possível presumir que pessoas magras são saudáveis, não é razoável determinar que pessoas obesas são doentes. Pessoas magras muitas vezes têm comportamentos de risco e/ou transtornos alimentares como bulimia, anorexia, ortorexia ou vigorexia. Ainda assim, são validadas socialmente, o que, na opinião do influenciador, é um indício de que as pessoas não estão preocupadas com a saúde das outras, mas sim externalizando seus preconceitos.
O ativista negro e LGBT Spartakus Santiago comentou a dificuldade de ser uma criança LGBT em um ambiente escolar e familiar que não discute o assunto. Mesmo quando a criança não tem consciência sobre sua orientação sexual, o mero indício de comportamento associado à homossexualidade gera hostilidade entre os colegas, que reproduzem discursos que trazem de casa. O ativista defendeu que a escola precisa estimular o diálogo e o respeito, através de informação e políticas de inclusão, a fim de promover um desenvolvimento saudável da sexualidade e a proteger crianças com orientação sexual diversa da padrão.
Spartakus falou ainda da dificuldade de crianças negras desenvolverem autoestima, pois a maior parte das referências sobre beleza e sucesso é branca. As crianças negras não se sentem representadas em revistas, programas de TV e centros de poder, o que pode levar à sensação de que há algo errado com elas e não com um mundo que não promove a diversidade. Por fim, alertou: “Não há como falar de valorização da vida sem valorizar a vida das minorias”.
Luiza
CVV Belém