Duas, três, quatro pessoas juntas. O burburinho pode parecer inevitável. Falar sobre o dinheiro que insiste em acabar antes do final do mês, a mesa abarrotada de serviço, o filme que acaba de estrear, a balada do final de semana ou a prova difícil são temas cotidianos. Mas o papo, quando é sério de verdade, quando trata do que vai mais fundo dentro de si, quando incomoda, provoca, é cheio de silêncios. É na ausência de fala que quase sempre é possível olhar para dentro de si, deixar a mente aquietar e encontrar a ponta do novelo que teima em se manter enrolado.
Para muitos, o silêncio pode ser visto como algo desagradável, ausência de relação e reação, principalmente quando se está em dupla e a interação costuma ser quase uma necessidade. Mas ele é repleto de significados. É ele quem permite o contato com as próprias experiências. No entanto, a pausa no discurso precisa ser recebida com empatia, compartilhada de forma acolhedora. Quem está do outro lado também silencia, mas para compreender.
Ao estar livre para falar ou calar, a pessoa consegue se conectar consigo, com sentimentos e atitudes que fluem. Nada que seja possível com cobranças ou questionamentos sobre a falta de confiança e rejeição da ajuda. Menos ainda com superproteção ou sentimento de posse, julgamentos ou interpretações. Tem muito mais a ver com o reconhecimento do outro como indivíduo dono dos próprios sentimentos e experiências.
É bem verdade que, como explicam os especialistas, existem diversos tipos de silêncio. Entre eles, o chamado movimentado – que envolve choro, riso e respirações profundas – e o que expressa profunda relação consigo mesmo. Neste caso, é como se a pessoa olhasse apenas para si, sem enxergar mais ninguém. A ausência de verbalização ocorre por medo, inclusive da não-aceitação, mágoa, descontentamento pelo interlocutor, confusão de sentimentos, e até pelo desânimo tão comum em quem tem depressão. É o momento para reorganizar os sentimentos, temores e lembranças. Tempo para respirar até que verbalizar, deixar a fala fluir, seja a melhor opção.
Leila
CVV Brasília
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