Pistas como pedidos de socorro

Data17/01/2017 CategoriaAutoconhecimento

Um estudo realizado por pesquisadores brasileiros mostra que apenas em 3,2% dos casos o suicídio não está relacionado a algum tipo de transtorno de ordem mental, ou seja, não foi identificada uma patologia. “Não quer dizer que que não tivesse. Nós, estudiosos, dizemos que quase 100% das pessoas que se suicidaram tinham no momento do suicídio, pelo menos da proximidade do ato, alguma patologia mental, e não foram devidamente tratadas”, explica a psiquiatra Alexandrina Meleiro, Coordenadora da Comissão de Estudo e Prevenção do Suicídio da Associação Brasileira de Psiquiatria.

Ela alerta para a importância de pais, professores, colegas e amigos sempre procurarem observar as mudanças de comportamentos nas pessoas próximas. Uma retração inesperada, um silêncio recorrente, ansiedade exagerada, dormir demais, isolar-se…. Mudanças de atitudes que começam aos poucos e vão ganhando corpo. Às vezes, incluem até mesmo abuso de substâncias, como drogas, que a longo prazo só pioram o quadro depressivo. “Tudo isso favorece com que vá aumentando, acentuado o grau de depressão ou de dependência química e que vai fazendo surgir, na pessoa, a ideia de morte, a vontade de morrer”.

Essa vontade pode se transformar em algo mais sério. Ou não. É necessário, então, seguir de olho. “Pode aparecer, de novo, a vontade de deixar de viver e de se matar. Nesse meio tempo, a pessoa vai dando alertas, dando pistas para os familiares, os amigos, que ela não está bem. Ela vai falando que não quer mais viver, que a vida não tem sentido, que quer ir embora, queria estar morta”, exemplifica a médica. Todas essas são frases indicativas da necessidade de ajuda. “Se a gente não faz nada, pode vir a fatalidade. Por isso a gente tem que sempre ter em mente de que o suicídio é algo de que nós podemos prevenir, algo evitável”.

A especialista lembra que dos 172 países que têm ações de prevenção do suicídio, 83% conseguiram reduzir, efetivamente, o número de mortes. O Brasil está fora deste grupo. “Infelizmente, o Brasil faz parte dos 17% que não reverteram as estatísticas. Então, é um cenário muito triste. Porque nós teríamos condições, porque o plano existe. Só que não foi colocado em prática”. O caminho, na avaliação dela, passa por uma força tarefa que inclua atitudes nas escolas, na população, nas unidades básicas de saúde, no programa saúde da família, nos hospitais, no Caps e em todos os pontos nos quais se possa prevenir.

A médica reitera sobre a necessidade de falar sobre o assunto. “Quando a gente aborda uma pessoa que está com ideação suicida e pergunta: você tem ideia de se matar, tem pensamentos ruins? Ela se sente aliviada e sente que alguém está entendendo o sofrimento dela. Grande parte, quase 90%, sente-se tranquila por estar abordando o assunto”. E falar, reforça ela, também é fundamental para quebrar tabus.

Leila
CVV Brasília (DF)

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