A morte como tabu

Data01/11/2017 CategoriaAutoconhecimento

O processo existencial, que começa no momento da  concepção, uma hora chega ao fim.  A morte ainda é tabu.  “As pessoas pensam:  não sei se falo, se não falo, o que falo…  Na dúvida,  acham que é melhor não falar nada”, analisa o psicólogo Carlos Henrique de Aragão Neto, especialista em tanatologia. Na avaliação dele, assim como se discute a sexualidade, deveria haver espaço para se debater o fenômeno da morte.

Apesar de ser algo natural e certo de ocorrer para todos, muitas vezes a opção é pelo silêncio. Um caminho, explica, é saber como a pessoa está se sentindo. “Normalmente,  dizem que não querem escutar nada, que  a única coisa que queriam era que chegassem perto dela. Que dessem um abraço, dissessem que poderia contar com elas, que estariam ao lado”, comenta.

São coisas simples que mostram que o mais importante é a presença, é saber que se tem alguém na hora de muita dor, perceber que uma pessoa está ao lado e, principalmente, tolera a dor alheia com total empatia. “Isso é muito difícil nos dias de hoje em função de vários aspectos, da correria do dia a dia, do ritmo muito acelerado, mais o despreparo para tolerar o discurso do outro”, observa.

A tentativa de consolo é comum. Quase sempre isso ocorre com o propósito de ajudar, de auxiliar quem está próximo, de tentar afugentar as dores daquele que se gosta. “Quando alguém chega para dizer que está sofrendo e que quer conversar, à medida que começa a narrativa, se tenta dissuadi-lo daquele discurso. Vamos ali tomar um café,  vamos ali fazer alguma coisa. Não fique assim,  a vida é linda,  olha só como o sol tá brilhando. Só que para ele o sol não está com esse brilho todo naquele momento, a vida, muitas vezes, perdeu a graça”.

Às vezes ocorre também uma espécie de mecanismo de defesa. Não se consegue  escutar ou tolerar o sofrimento do outro. Neste caso, pode-se, então, oferecer colo, carinho, a atenção do olho no olho. “É muito mais valioso do que qualquer frase de efeito”. Outra questão observada por ele envolve as crenças de cada um. “Às vezes a pessoa diz: foi Deus quem quis assim. Talvez essa seja o pior de se ouvir. Imagina, você perde o filho, está destruído naquele momento, e chega alguém que diz que foi Deus quem quis assim. A pessoa se pergunta: que Deus é esse que quis que meu filho morresse”

efesa. Não se consegue  escutar ou tolerar o sofrimento do outro. Neste caso, pode-se, então, oferecer colo, carinho, a atenção do olho no olho. “É muito mais valioso do que qualquer frase de efeito”. Outra questão observada por ele envolve as crenças de cada um. “Às vezes a pessoa diz: foi Deus quem quis assim. Talvez essa seja o pior de se ouvir. Imagina, você perde o filho, está destruído naquele momento, e chega alguém que diz que foi Deus quem quis assim. A pessoa se pergunta: que Deus é esse que quis que meu filho morresse”?.

Suicídio

A vulnerabilidade costuma marcar o processo de luto. No caso daquele por suicídio, existe um componente que amplia a dificuldade. A morte súbita, trágica, violenta, deixa uma série de questionamentos que não serão respondidas por aquele que partiu. É preciso, então, aprender a conviver com as muitas perguntas sem respostas e com os porquês que costumam atormentar o cotidiano dos enlutados.

Aragão Neto afirma que é comum pensar o que se fez ou deixou de fazer, em como se poderia ter ajudado a encontrar uma solução, imaginar que se deveria sentar para conversar, dar atenção maior à dor… “Normalmente, o luto de suicídio vem com uma carga de culpa muito grande. O enlutado se sente muito ou pelo menos um pouco responsável por aquilo que aconteceu”.

O outro sentimento muito intenso é a raiva. “E como sentir raiva de si ou daqueles a quem amamos?“, questiona ele. Antes que o tempo passe e chegue a aceitação, processo que varia de ser para ser, é comum a sensação de desamparo, de rejeição, do questionamento dos motivos pelos quais aquele que se ama partiu ou desistiu de viver.

O isolamento social e o estigma são característicos de quem vive o suicídio de maneira próxima. “Às vezes, a pessoa não tem coragem de sair às ruas por se sentir apontada, incriminada, porque é como se não tivesse dado amor para o filho, por exemplo”. Neste caso, o sentimento de vergonha convive com o luto.

Se você perdeu alguém próximo ou quer conversar sobre o luto, acesse cvv.org.br e veja todas as formas de atendimento disponíveis. E se quiser participar de um dos grupos de apoio aos sobreviventes, confira a lista completa em www.cvv.org.br/s23/blog/um-grupo-para-falar-de-suicidio/.

Leila

CVV Brasília (DF)

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