Força de vontade não cura depressão. A afirmação é do psiquiatra Neury Botega, e denomina um dos capítulos do seu novo livro: “A tristeza transforma, a depressão paralisa”. Imaginar que depressão é uma onda de baixo astral é um equívoco, sentencia ele. A busca pela superação em alguns momentos parecerá tão impossível quanto ir à lua a pé.
Nesse sentido, cobranças pouco ajudam. Frases como “Você consegue”, “Está te faltando força de vontade” ou “você precisa reagir”, por exemplo, são cheias de boa vontade, mas não contribuem naqueles momentos mais agudos. Pelo contrário. Fazem com que a culpa de quem está doente seja ainda maior e gere, inclusive, pensamentos como “só atrapalho” ou “seria melhor para eles se eu não estivesse aqui”.
A pessoa deprimida muitas vezes tem dificuldade para escovar os dentes, sair do quarto, tomar banho e alimentar-se, para citar atividades tão rotineiras na nossa vida que nem paramos para pensar no quanto podem ser uma prova insuportável para quem está doente. A pessoa sabe o que deve fazer, mas simplesmente não consegue.
Para quem está de fora, o julgamento muitas vezes é inevitável. A sensação de impotência e de não saber como ajudar alguém que se ama é angustiante Botega informa que uma em cada seis pessoas sofrem ou já sofreram de depressão. Num universo de dez pessoas à nossa volta, pelo menos seis tiveram ou têm a doença. O que confirma a necessidade de cada um de nós tentar cuidar da própria saúde mental, sobretudo quando a questão ainda passa pela prevenção.
Ninguém fica deprimido porque “é frágil”, lembra o psiquiatra, ou porque “tem dificuldade para ser feliz” ou “tempo de sobra”. “Não é consequência de mau comportamento e nem da falta de garra para lutar contra os sintomas incapacitantes da doença”.
A força de vontade pode, sim, contribuir para a busca de informações e de auxílio terapêutico. Mas isso não é regra. Quando ocorre dessa forma, é mais fácil para os que estão ao redor cuidar de alguém que demonstre esse tipo de reação. Mas, como lembra o especialista, a depressão mina a vontade e a iniciativa de pessoas que antes eram batalhadoras e cheias de vida. “Cobranças por ânimo fazem o doente se sentir pior. Não quer dizer que a pessoa deprimida não quer se ajudar ou não aceita ajuda. Ela simplesmente não consegue reagir”, conclui Botega.
Leila – CVV Brasília
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