É muito comum ouvirmos que “fulano sempre diz que está bem, mas na verdade não está”. Isto se aplica principalmente a adolescentes: é usual demonstrarem comportamentos retraídos, introspectivos e não estarem sempre disponíveis para o diálogo – principalmente se for sobre seus sentimentos. Nos textos anteriores, falamos sobre como a escuta pode ser uma importante ferramenta de ajuda – mesmo que nós não tenhamos a solução para o problema do amigo ou familiar que desabafa. (Confira os textos aqui: Como apoiar com a escuta? – A importância de estar presente na conversa – Nada de conselhos ou julgamentos)
E até aí tudo bem. Afinal, cada um tem o seu jeitinho, não é? Uns são mais comunicativos, outros mais silenciosos… Mas e quando percebemos que alguém não está nada bem e sempre que perguntamos ela responde “está tudo certo…”? Como nos comunicar com alguém que não parece disposto a conversar, embora esteja visivelmente em sofrimento? E como, afinal, ajudar alguém com nossa escuta mesmo quando a pessoa não quer falar?
Bom, costuma ficar claro que obrigar a pessoa a falar sobre os sentimentos dela, às vezes até utilizar a agressividade, não é uma boa ideia. Afinal, um dos fundamentos da escuta como ferramenta de ajuda é justamente o acolhimento e o respeito pelo espaço e pelo tempo da pessoa.
Mas se não podemos obrigar a pessoa a falar, e estou profundamente preocupado com ela, o que se pode fazer?
Lembre-se que escutar não é apenas um comportamento passivo, muito pelo contrário. Escutar é ir em direção ao outro. Quando nosso coração fica apertado de preocupação com uma pessoa querida, podemos nos aproximar dela e abrir nossos sentimentos: “Veja, eu tenho percebido que você não está bem. Posso estar enganado, porém meu coração diz que algo não está bem. Eu realmente me preocupo contigo e gostaria de te ajudar de alguma forma, porém sempre que falo contigo não consigo um diálogo. Não sei o que posso fazer por ti, mas gostaria que soubesse que estou aqui para conversar. Talvez eu não tenha a solução pronta para teu problema, mas tenho certeza que podemos encontrar alguma.”
Mantendo uma postura empática e acolhedora, mas ao mesmo tempo ativa e enérgica. Vamos em direção ao outro, mas sem ultrapassar o seu limite. Estabelecemos contato, mas sem forçá-lo a seguir em nosso ritmo.
Convidar a pessoa de maneira solidária e compreensiva, diminuindo ao máximo os julgamentos pessoais e aumentando o respeito pelo momento difícil dela, é abrir a porta para o diálogo. E então, por fim, podemos ajudar o outro com este instrumento singelo e poderoso que temos: escutar e acolher alguém.
Apesar da utilização comum do termo escuta, o CVV oferece atendimento sigiloso e voluntário também por chat, sendo possível, inclusive, conversar com pessoa com deficiência auditiva. Precisa desabafar? Acesse www.cvv.org.br/23
Rael
CVV Curitiba