A Pixar adora mesclar temas sérios com desenhos bonitinhos e com isto já ganhou oito Oscars. É deles a produção dos consagrados Carros, Valente, Vida de inseto, Monstros S. A., Up – Altas aventuras, Os Incríveis, Divertidamente, entre outros. A animação Wall-e, por exemplo, é uma forma lúdica de falar sobre poluição, usando um simpático robozinho sobrevivente para nos alertar.
Procurando Nemo, a história de um pai solteiro que atravessa o mundo atrás de seu filho que tem sequelas de um acidente, é uma grande trama sobre a superproteção e a aceitação da deficiência física do adorável peixinho. Sua continuação, Procurando Dory não só mantém essa tradição, como dá um passo à frente e trata de um assunto complexo: a deficiência intelectual.
O filme mostra Dory, a peixinha coadjuvante em Procurando Nemo, tentando entender um pouco sobre seu passado e indo atrás de seus pais. A personagem ganha status de protagonista e sua falta de memória – combustível para diversas piadinhas no primeiro filme – ganha uma roupagem mais séria. É aí que entra a grande sacada da continuação: nós já sabemos que um peixinho com deficiência física consegue atravessar o mundo e fugir de um aquário, mas e se o problema dele fosse cognitivo? Quais são os limites que esse tipo de deficit pode trazer?
Dessa forma, o estúdio aborda um tema mais comum do que imaginamos na nossa sociedade. A dificuldade de memorização é um problema complexo e afeta milhões de pessoas. Se Dory fosse alguém de carne e osso, ela enfrentaria algumas dezenas de dificuldades todos os dias. Tudo é contado de maneira sutil e fofa – o que só deixa o resultado melhor ainda.
Os diretores Andrew Stanton e Angus MacLane conseguem falar sobre isso do jeito mais delicado possível. É capaz que você saia do cinema e nem perceba que estavam falando sobre transtornos mentais, só sobre peixinhos carismáticos, e a trama é tão boa que já bastaria mesmo.
O filme apresenta outros personagens que também têm transtornos, como o polvo Hank, que após ser mutilado desenvolve uma espécie de estresse pós-traumático, e o beluga Bailey, que tem sérios problemas de autoestima. Em Procurando Nemo, quem não se lembra do tubarão vegetariano Bruce, que frequentava um grupo de ajuda para controlar seus impulsos carnívoros?
Além de ótimo divertimento, estas animações são uma aula sobre inclusão e aceitação de limites – os nossos e os dos outros – e podem ensinar lições para a vida, especialmente para as crianças. Todas têm em seu contexto reflexões de temas bastante atuais, que podemos trazer para nos ajudar a entender o nosso dia-a-dia.
Adriana
CVV Araraquara