Constantemente a associamos à submissão, pobreza e até inferioridade. Mas se olharmos sob outro aspecto, como uma virtude que nos aproxima de nós mesmos, poderemos ter na humildade uma grande aliada no processo de se conhecer melhor. Momentos de tragédias, de dificuldades e de perdas parecem ter alguma capacidade de nos despertar para a fragilidade da vida e revirar dentro de nós esta qualidade. Percebemos nossa impotência frente ao choque que nos reconecta com a realidade e dá a dimensão de nosso tamanho.
No cotidiano, uma pessoa humilde às vezes é vista de forma equivocada, como quem se humilha ou acata tudo o que os outros falam. Mas humildade é sinônimo de distinção, gentileza, simplicidade e principalmente de autoconhecimento. Alguns autores chegam a dizer que não significa perder a dignidade pessoal, longe disso, mas valorizar o próprio esforço sem se comparar aos outros.
Com frequência, essa qualidade também é confundida com o hábito de subestimar a si mesmo, o que pode ser tão prejudicial quanto o reverso, a arrogância. Essa falsa modéstia acontece quando fingimos ignorar o nosso valor, funcionando até como tática para receber mais elogios. A humildade forjada, mascarada, é um dos caminhos para o autodesprezo quando, sinceramente, se desvaloriza o que se tem não por humildade, mas por comparação excessiva com os atributos e façanhas dos outros.
Todos temos qualidades e pontos fracos. Todos, exatamente todos, somos assim… bons e, em alguns momentos e situações, não tão bons, para ficar apenas numa avaliação dicotômica.
O conhecimento e a aceitação de nossos próprios limites é o principal instrumento a favor dos humildes. Buda dizia: “De que servem cabelo e manto impecáveis se tudo dentro de ti está confuso e, no entanto, penteias a superfície?”
Para o psicólogo Roberto Rosas, a dificuldade em praticar a humildade reside na cultura marcada pelo narcisismo, que privilegia o egoísmo e a performance. Segundo ele, crises pessoais, financeiras, mortes e doenças podem ser momentos de aprendizagem e reflexão. E não é vergonha admitir o erro e perguntar: como é possível melhorar? A falta de humildade é um sintoma de que algo precisa ser mexido no interior de cada um de nós.
Parece que esse valor tem a ver com olhar para o outro de igual para igual, não na comparação ou na superioridade, e sim no sentimento de reconhecer que cada um de nós tem a sua própria jornada, e todos somos humanos. O curioso é que essa qualidade pode ser até uma parceira na conquista dos nossos objetivos. Embora pareça fragilidade ou inferioridade, ela na verdade fortalece nossa autoestima. Traz o poder de confortar, ajudando-nos a nos sentir bem, inclusive com o que temos e com aquilo que somos, sem comparações.
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