Uma adolescente perde uma de suas melhores amigas por suicídio. A dificuldade em compreender a decisão dela e a aproximação do problema que antes não havia imaginado faz com que ela se questione: “Por que ela não lhe disse nada, por que não pediu minha ajuda?”. Assim começa a jornada descrita no documentário Not Alone, Não Sozinho em português.
A partir daí, tem início uma saga em busca por informações para entender o ato da amiga e de muitos jovens que cometeram suicídio. Jacqueline Monetta, diretora e idealizadora do documentário, fez buscas na internet, participou de palestras, cursos, buscou entidades de prevenção ao suicídio e, por fim, decidiu ouvir os adolescentes para saber deles próprios o que os motiva a pensar em tirar sua vida e o que os deixa deprimidos.
O documentários traz jovens falando a respeito do assunto. Pode-se observar a importância da comunicação nas redes, que exerce menos o caráter de informação e mais o de interferência na vida das pessoas. O bullying está muito presente na obra, que ainda aborda preconceito, discriminação, família, pressão social e abusos. A exposição frente às situações pode desencadear situações associadas à depressão. Como a depressão pode estar associada ao suicídio, cria-se uma grande bola de neve.
O sistema educacional também é alvo de críticas diretas no documentário. O ponto é a ausência de debates sobre questões pertinentes ao cuidado com a saúde mental e a necessidade de bem-estar psicológico. Socialmente, muitas vezes costuma-se caracterizar a depressão como “frescura”. Mas é preciso lembrar o efeito doloroso que ela é capaz de causar à saúde mental de uma pessoa, independentemente da idade.
Dessa forma, o convívio com esse sofrimento se torna imprescindível e inevitável, por mais difícil e delicado que seja. O silêncio apenas colabora para a desinformação, estigmatização e para que milhares de pessoas se sintam deslocadas ou com a sensação de não precisar externalizar como se sentem, pois serão criticadas e julgadas por seus sentimentos.
O diálogo é um meio poderoso de ajuda e um dos pilares para a recuperação daqueles que sofrem. O documentário dá voz ao sofrimento de forma a encarar como é se sentir deslocado, deprimido e solitário, deixando que as pessoas mostrem suas lutas diárias e, ao final, seus meios particulares de busca de melhoria, de viver com um pouco de qualidade.
Not Alone carrega uma mensagem central: Você não está sozinho. Muitas pessoas sofrem também, e é justamente quando essas pessoas podem se abrir, quando são ouvidas de verdade, que o estigma sobre o sofrimento mental pode ser combatido e as pessoas podem caminhar na busca de bem-estar, sabendo que mesmo se tropeçarem – pois o caminho nunca é uma linha reta – terão suporte e voz. Além disso, critica-se no documentário a ditadura da felicidade que domina a rede social, na qual a imagem vale mais que o verdadeiro sentimento e o estado emocional da pessoa que estão atrás da tela.
A maioria das pessoas remete o sofrimento psíquico a algo ruim, que não pode ser mencionado, enquanto outras acreditam que, se uma pessoa parece estar feliz, não há motivos para sua saúde mental ser cuidada. É preciso quebrar este estigma. A felicidade estampada em fotos e postagens quase sempre não traduz o Ser e o sentir e não deveria ser considerada parâmetro para diminuir o sofrimento de alguém, pois todos sentimos, somos tristes e felizes em determinados momentos de nossas vidas.
Adriana
CVV Araraquara
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