Você alguma vez já quis simplesmente desabafar, mas acabou escutando os conselhos da outra pessoa? Já passou por um momento em que você queria apenas ser acolhida, mas acabou sendo julgada pelo que a outra pessoa achava ser certo ou errado?
Como abordado nos textos anteriores, quando consideramos a escuta enquanto forma de ajudar outras pessoas, vimos que é importante que o outro possa falar mais do que nós (Como apoiar com a escuta?) mas que, por outro lado, escutar não é ficar completamente quieto (A importância de estar presente na conversa).
Agora, vamos falar um pouquinho sobre o terceiro passo que é a importância de mantermos a atenção nos sentimentos da pessoa que desabafa, e não somente nos problemas em que ela está enfrentando. De maneira geral, quando uma pessoa (um amigo, familiar, colega, etc) está precisando falar sobre uma situação angustiante que lhe incomoda, podemos considerar duas possibilidades: ajudar a resolver o problema dela ou não.
Por exemplo, se o problema é dinheiro, talvez você possa emprestar uma quantia para ela e a questão está resolvida. Se for emprego, quem sabe você indica uma determinada vaga ou oportunidade e pronto. Mas existem situações nas quais não é tão simples assim. Você pode não ter o dinheiro para emprestar nem ter uma indicação de vaga. Enfim, você não vai conseguir resolver o problema para ela – mas isso não significa que você não pode ajudar.
E é aí que entra a importância de ouvirmos e falarmos sobre os sentimentos da pessoa, não apenas dos problemas. Quando uma pessoa precisa desabafar, geralmente temos a tendência de focar nos problemas e entrar numa batalha para que a pessoa faça o que nós acreditamos que é o melhor. Quase sempre ficamos presos querendo resolver o problema de acordo com os nossos valores, crenças e experiências, querendo estar certos, e ignoramos completamente o sentimento que a pessoa carrega.
A experiência de acolher os sentimentos de alguém durante uma conversa é realmente forte. É comum que as emoções apareçam marcadas e as lágrimas confirmem a autenticidade deste momento tão fraterno.
E o efeito também costuma ser nítido: sentimentos de alívio, relaxamento, acolhimento. Uma possibilidade de olhar para os velhos problemas a partir de outras perspectivas.
Eis um exercício que pode ser bem legal: procure lembrar das últimas conversar que você teve, quando você quis desabafar com alguém ou algum amigo veio desabafar contigo. A conversa teve foco mais nos problemas ou sentimentos? Toda a conversa foi direcionada em encontrar soluções para o problema ou acolher fraternamente as emoções do outro?
Para concluir, deixamos com você o poema “Da felicidade”, de Mário Quintana:
“Quantas vezes a gente, em busca da ventura,
Procede tal e qual o avozinho infeliz:
Em vão, por toda parte, os óculos procura
Tendo-os na ponta do nariz!”
*Os voluntários do CVV estão disponíveis 24 horas para conversar de maneira sigilosa e acolhedora. Acesse www.cvv.org.br/23 e veja a melhor forma de contato na sua localidade.
Rael
CVV Curitiba