13 Reasons Why: o sofrimento de Hannah Baker

Data12/04/2017 CategoriaAnsiedade

“Se você está ouvindo esta fita, você é um dos porquês…”. É assim que Hannah Baker, protagonista da série 13 Reasons Why (em português, “Os 13 porquês”), da Netflix, inicia seu primeiro monólogo ao explicar as razões que a levaram ao suicídio. Hannah, espirituosa e sagaz, transforma-se, ao longo da trama, em alguém que se abandona por completo, entregue às dores e percalços da adolescência. Sem pedir ajuda de forma clara – há apenas insinuação de apelo – a menina grava sete fitas e faz com cheguem àqueles que ela responsabiliza pela situação. A série, que virou assunto nas rodas de adolescentes e chegou aos Trendings Tops, mobilizou as redes sociais ao incentivar o uso da hashtag #nãosejaumporque. O tema é de extrema relevância, tendo em vista que o suicídio é a segunda causa de mortes em jovens em todo o mundo, atrás apenas dos acidentes de trânsito (no Brasil, é a terceira causa mais frequente, atrás ainda dos homicídios).

Mais do que suicídio, “Os 13 porquês” fala da necessidade de ser ouvido. Hannah deseja não só mostrar aos seus colegas as feridas que eles lhe causaram, mas, principalmente, quer que todos ouçam o seu lado da história, “a sua verdade”, segundo ela, a versão menos popular que transita pela escola. Sem conseguir expressar-se por achar que não teria credibilidade, a protagonista se vê enredada em uma série de boatos que não condizem com o que aconteceu e enxerga nas fitas cassete (uma mídia antiga e que requer total atenção durante a escuta), uma maneira para que prestem atenção ao que ela tem a dizer. É importante salientar que a decisão de tirar a própria vida é inteiramente da pessoa (não há culpados), mas é impossível sabermos o quanto podemos ampliar a dor no outro, por isso é importante ouvir.

Apesar de ter um bom relacionamento com os pais, Hannah não se sentia à vontade em conversar com eles sobre aquilo que a atormentava. Talvez por vergonha ou por medo do choque de gerações. Ela precisava de ajuda, mas ao mesmo tempo temia preocupá-los e sentia que poderia ser um peso, já que eles passavam por problemas financeiros graves. Em meio aos problemas dos outros, a menina minimizava suas dificuldades de adolescente, uma postura comum entre os que se encontram em sofrimento, que muitas vezes acham que não têm o direito de sofrer por questões que consideram pequenas, enquanto outros parecem conviver com problemas maiores.

A partir do meio da série, quando sua dor, que não compartilhava com ninguém, vai se acumulando, torna-se frequente que Hannah diga que se sente invisível e que só causa problemas aos outros. Estes são indícios de que a pessoa pode estar pensando em acabar com sua vida, avaliando se esta vale à pena. Mais do que pelo bullying que sofria, a angústia da personagem vai crescendo quanto mais ela sentia que ninguém a enxergava de verdade, não a conhecia e não estava disposto a ouvi-la. Seu maior problema talvez não fosse a perseguição dos colegas, mas a percepção de que estava sozinha em sua dor. As gravações parecem ser a forma final de Hannah quebrar a invisibilidade que a sufocava, a forma encontrada por ela para chamar a atenção de todos para o seu sofrimento, de gritar que existia.

Adolescentes têm, muitas vezes, dificuldades em expressar seus sentimentos com medo de não serem levados a sério. Com receio de terem suas dores julgadas como insignificantes, acabam se fechando. Em um último ato, Hannah procurou ajuda, buscou ser ouvida e enxergada pela última vez, mas não se sentiu verdadeiramente acolhida. Para a personagem, o pedido de ajuda foi ineficaz, mas é importante que se diga que, em mais de 90% dos casos, é possível prevenir o suicídio, segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS).

Com a missão de colaborar com a prevenção do suicídio, o Centro de Valorização da Vida (CVV) oferece serviço gratuito de apoio emocional 24h, a quem deseja conversar sem julgamentos, de forma anônima e sigilosa, por meio de telefone, chat, e-mail, Skype e pessoalmente (veja como em www.cvv.org.br/23). Em resumo, oferece justamente a oportunidade de alguém ser ouvido com atenção e cuidado, sem sentir-se invisível.

Ana Paula e Luiza
CVV Belém (PA)

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