Que mensagem pode nos deixar um ato trágico como o suicídio de uma pessoa? Algo tão inusitado, pois vai contra até um dos instintos mais comuns a todas as formas de vida: o da sobrevivência.
A artista Cibele Dorsa, em 2011, como muitas outras pessoas fazem, deixou explícito, por escrito, algo que a impulsionou a auto-destruição: a solidão. Note-se que estamos falando de uma personalidade, uma pessoa rodeada de admiradores, perseguida por fãs, que frequentava as melhores festas, enfim, como pode se dizer solitária?
Talvez por pobreza de vocabulário, talvez por indiferença humana, o senso comum associa solidão à falta de pessoas ao redor, ou seja, é uma situação constatada pela visão externa, quando, na verdade, solidão é um estado de espírito, é um sentimento dos mais íntimos e individuais.
E tão difícil quanto entender a solidão é saber lidar com ela, pois é algo que começa pequeno e vai se avolumando aos poucos. Toma conta de todos os outros sentimentos que poderiam nos trazer a felicidade e a estabilidade emocional. Torna-se arrasadora! Como foi com a Cibele: arrasou sua própria vida e de tantas pessoas que a amavam e carregarão essa sensação de que poderiam ter feito algo.
A razão disto, não está propriamente nessas pessoas, nem na própria Cibele. Nossa sociedade esconde verdades sob o tapete. Finge que fotos bonitas substituem conversas sobre sentimentos, que amizade é estar junto na festa e não estar ao lado em qualquer situação (principalmente nas mais difíceis).
Matar esse monstro chamado solidão não é fácil, mas é possível. Ouvir alguém sem julgar suas emoções, pensamentos e atos, demonstrando que os sentimentos dessa pessoa são importantes para você. Esse ainda é o melhor remédio. Não custa, não tem contra-indicações e pode ser praticado em qualquer local por qualquer pessoa.
Ao invés de simplesmente nos chocarmos, vamos evitar que outros casos surjam. Vamos aproveitar o drama da Cibele, com todo o respeito que ela merece, uma reflexão sobre nosso modo de nos relacionar com os outros e com nossos próprios sentimentos.Médico psiquiatra e diretor do CVV – Centro de Valorização da Vida
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