“A solidão digital nos reenvia às nossas linhas de fratura social e nos lembra de que a justiça e a dignidade vão além da satisfação das necessidades materiais. Criticar a violência das relações sociais digitais, talvez, só faça sentido se criticarmos com a mesma força a violência das relações sociais não virtuais”. A opinião é do historiador Anthony Favier, em artigo publicado na revista francesa Parvis, de março-abril de 2014.
Na avaliação dele, jamais se viu tamanho apetite pelas novas formas de comunicação. “A ‘revolução’ digital muda as nossas sociedades, que, no entanto, não parecem conseguir respostas para a solidão sofrida por alguns de seus membros. São inúmeros os paradoxos contemporâneos. Formamos, ao mesmo tempo, uma sociedade em que os solteiros são legiões e buscam o amor, sozinhos, em sites de encontro pagos. O desejo de se afirmar diante de si mesmos se realiza através da inserção on-line em redes sociais de dados privados e fotos com pessoas que se encontram pouco ou raramente e que são, apesar de tudo, definidas como amigas”.
Na mesma linha, a socióloga norte-americana Sherry Turkle, que estuda o modo como a internet transforma os comportamentos, destaca que, durante essas conexões, as pessoas sentem-se tranquilizadas por estarem em contato com um grande número de outras pessoas, que são cuidadosamente mantidas à distância. E prossegue a autora: “Nunca temos o suficiente do outro, já que podemos usar a tecnologia para manter o outro à distância: não perto demais, nem longe demais, justamente da forma que nos convém. Portanto, as técnicas da informação satisfariam o nosso desejo de controle, mas desembocariam somente em relações distantes e, consequentemente, inconsistentes… que nos tornam, no fim, mais sozinhos e que marcam o advento de uma sociedade conectada e com algum tipo de emoção ruim, que faz mal “.
Para os que vivem na solidão, entregues à vida contemplativa, isolados do trato social, Favier finaliza no artigo: “A tecnologia não abole as distâncias, mas pode criar novas amizades, improváveis redes de interesse, socialidades nascidas do diálogo espontâneo. Blogs e fóruns sobre centros de interesse não significam o desaparecimento da associação de bairro ou de ex-alunos; muitas vezes, oferecem um paralelo digital delas e prolongam a sua prática sob uma outra forma”.
A solidão entre quatro paredes, apesar da quantidade de “amigos virtuais” conectados, pode não estar correspondendo às expectativas. Por isso, voluntários do Programa CVV, distribuídos em postos por todo o Brasil, estão disponíveis para conversar, com quem desejar um diálogo sigiloso e sem julgamentos.
O Centro de Valorização da Vida é uma das mais antigas e maiores entidades sem fins lucrativos do Brasil e com atuação essencialmente voluntária. Ao longo de mais de 53 anos de existência, o CVV vem fazendo história e quer continuar a ajudar as pessoas, através de conversas que podem ocorrer pessoalmente e por telefone, ou através de e-mail, chat, Skype e blog. As formas de comunicação mudaram, mas a necessidade das pessoas de se abrirem e serem ouvidas continuam iguais. Compartilhe com o CVV tudo o que você não divide com seus familiares e amigos próximos.
Helio
CVV Ribeirão Preto – SP