Discutir, esbravejar, brigar não é agradável para a maioria das pessoas, principalmente para as que estão mais acostumadas a não expor sentimentos e emoções. A situação de conflito constantemente é tida como algo extremamente negativo. Será mesmo? Com exceção dos extremismos, quando o desentendimento leva à agressão física ou moral, os demais podem ser saudáveis, desde que bem administrados, e até contribuir para uma convivência harmoniosa.
De que maneira? As coisas mudam se as absorvermos sob prisma diferente. Uma situação de desencontro pode ser vista como algo errado ou ruim por uma pessoa, enquanto que, por outra, pode ser entendida como uma oportunidade de crescimento. Vivenciar um conflito significa ter pontos de vista diferentes. Se nos abrirmos, sendo mais flexíveis, poderemos observar o jeito do outro, a maneira de interagir, de pensar, de se comunicar, e, se nos permitirmos, enriquecer-nos com as diferenças, bem como tomar o espaço do outro um pouco mais rico.
Isso nos encaminha para a reflexão de que nunca devemos ter as nossas experiências como verdades absolutas, apenas porque elas nos pertencem. Se levarmos em consideração que a atitude de expor nossos sentimentos para os outros, ao invés de reprimi-los, é um procedimento saudável, podemos acreditar que este é, ou poderia ser, o nosso ideal. Óbvio que não significa expor o que se sente de forma agressiva. O comportamento ideal está entre os dois extremos.
E então podemos refletir sobre a ocasional necessidade de que existam conflitos, já que na convivência social não pensamos nem agimos da mesma forma. São ferramentas que podem ser usadas como meio de enriquecimento pessoal. O nosso ego, querendo nos colocar na posição de destaque, acaba atrapalhando os nossos relacionamentos, porque, muitas vezes, enxergamos no outro uma ameaça, quando, na verdade, estamos ou podemos estar buscando um amigo.
A oportunidade de fazer alguma troca enriquecedora não acontecerá se nos fecharmos dentro de um egoísmo paralisante. Muitas pessoas se afastam da interação e com isso conseguem manter a ilusão de que os problemas são provocados pelos outros, porque se sentem perturbadas somente na presença deles, e não sozinhas. Entretanto, quanto menos desenvolvemos o contato, mais agudo se toma o anseio por ele. Este é o sofrimento da solidão e da frustração. O contato pode ficar difícil quando queremos manter a ilusão de que o eu interior é harmonioso e perfeito.
Kelly
CVV São Bernardo do Campo (SP)