Falar para reconstruir o caminho

Falar sobre suicídio pode ser doloroso. Mexer em camadas que muitos querem esquecer. Mas também pode ser liberador. “Às vezes, as pessoas pensam que falar é cutucar a ferida. Mas quando você fala, vai colando as peças, reconstruindo o caminho”, descreve Terezinha Máximo, mãe da Marina, que morreu por suicídio em 2017. Terezinha é uma sobrevivente, termo usado para denominar todos os que são impactados por uma morte por suicídio.

Da dor aguda surgiu o Grupo de Apoio a Enlutados por Suicídio, que funciona em São Bernardo do Campo (SP) (https://nomoblidis.com.br/grupo-de-apoio-nomoblidis/). “O grupo é um lugar de reconstrução, de entender que é um passo de cada vez”, diz ela. Com acolhimento e compreensão, ouvir outras pessoas que passaram pelo mesmo. “Esse acolhimento é de não julgar e não se culpar tanto, entender mais sobre o processo, ter autocuidado e buscar rede de apoio fora da família”.

Permitir-se sentir as reações do luto, diz, é fundamental. “Aceitar a dor, não tomar decisões precipitadas, dar um tempo nas decisões, sobretudo mudanças, buscar apoio, não se automedicar, evitar abusos de álcool e drogas, não se cobrar por melhoras e evitar comparações com outras pessoas”.

Terezinha lembra que, no início, sentia raiva de as outras pessoas não entenderem o que é o suicídio, como é o suicídio. “Meu mundo desabou e vou ter que construir de novo. Nós somos julgados e quem foi também é julgado. O julgamento é para quem vai e para quem fica”.

Foi muito comum ouvir frases do tipo “Você tem outros filhos”, “Deveria parar de falar da sua filha”, “Melhor assim, ela não sofre mais” ou “Foi Deus que quis assim”, por exemplo. “Muitas vezes as pessoas não sabem o que dizer e acham que têm que dizer alguma coisa. Tem algumas que machucam. Falam, mas não é por mal”.

Uma das coisas mais difíceis, revela ela, é conviver com os “se” e os “porquês”. “Por mais que a gente saiba que não tem culpa, ela vem de alguma forma. É que nem uma fumaça que vai entrando em lugares que você nem imagina. Por não saber lidar, por não entender os sinais que só vão fazer sentido depois que aconteceu… “.

As muitas perguntas sem resposta também machucam. “A resposta foi com ela e nem ela talvez pudesse responder. Às vezes o sofrimento é tão grande que a pessoa nem pensa no ato”. Para Terezinha, a família enlutada precisa viver a sua dor. “Gastar a dor, viver o luto da forma como a pessoa entender. Se recolher, lembrar, chorar quando der vontade e aos poucos reconstruir a vida porque é possível reconstruir a vida”.

 

Dia Internacional

20 de novembro é o Dia Internacional dos Sobreviventes Enlutados pelo Suicídio. A data foi criada pela AFSP (Associação Americana de Prevenção do Suicídio), que convencionou o terceiro sábado de novembro com o objetivo de ampliar a consciência pública para o tema.

Assista episódio do “Como Vai Você?” sobre o assunto: https://www.youtube.com/watch?v=AIT2hsCYPGc

GASS

O CVV oferece os Grupos de Apoio aos Sobreviventes de Suicídio (GASS). Os encontros, suspensos nesse momento em função da pandemia, são regulares, gratuitos e sigilosos. Podem participar não só os que perderam alguém por suicídio, como também os que tentaram suicídio. Os endereços podem ser conferidos em https://cvv.org.br/cvv-comunidade/

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