A pandemia é tema importante porque toda a humanidade está a sentir o quanto parecemos frágeis e o quanto podemos ser corajosos. Quantos de nós estamos no enfrentamento íntimo de nossos afetos e medos e, tantos mais, estão arregaçando as mangas e fazendo história. Fato é que estamos em uma tragédia: a pandemia do novo coronavírus. O mundo todo de joelhos diante de um vírus que há bem pouco nem existia.
Muitas pessoas morreram acometidas pela covid-19. Agravam-se a perda e a dor se consideramos os familiares, amigos e colegas que sofrem pelas vítimas. Sofrimento solitário e profundo quando nem mesmo é possível a despedida, o olhar para o ente querido para dizer adeus, a ritualização do luto.
Estamos imersos num caldeirão de sentimentos e emoções que conflitam entre si, numa oscilação entre a esperança e o medo. A possibilidade da vivência de perdas de entes queridos, de trabalho, de emprego, de status social e da vida trazem, de forma concreta, a impotência e a coragem, a vilania e a solidariedade, a indiferença e a incerteza.
Talvez seja possível traçar um paralelo entre o processo de suicídio e a pandemia. De causas, cenários e perspectivas. As mortes inesperadas e bruscas, a ausência ou insignificância de fatores protetores, a presença de fatores precipitantes, a reação do luto, o sofrimento existencial.
Há uma pergunta no ar: será que o número de suicídios vai aumentar durante e depois da pandemia? Não há registros que nos respondam. Nem profetas. Desejamos que não, certamente. Podemos compreender que há fatores que podem aumentar o risco de suicídio, predisponentes e precipitantes. No entanto, emergem os fatores protetivos que despertam afetos para aumentar a resiliência e a autoproteção.
Quando se percebe a inquietação das pessoas em face do isolamento, configura-se a situação da solidão como fator predisponente do processo suicidar-se; a instabilidade emocional, a impulsividade agravadas pelos conflitos familiares nesta convivência forçada, a situação financeira por perda de emprego ou trabalho, a agressividade emergente em situações defensivas, o afastamento de atividades sociais como não estar com os amigos, não ir à igreja, não comparecer aos eventos e outras mais.
Contudo, há também os fatores protetores e atitudes que podem minimizar a situação de crise. Receber e dar um telefonema a um amigo ou familiar, assistir lives significativas, descobrir novos talentos, ter ações de solidariedade, sentir-se amado, amparar-se na leitura de clássicos e em filmes; falar com alguém, mesmo que um desconhecido, como o voluntário do CVV, sobre suas dores e sofrimentos e outras formas de cuidado consigo e com o outro, trazem a significância do amor e da valorização da vida
É possível que a resiliência e os fatores protetores ajudem. É possível que não. Mas talvez muitos consigam sair desse período fortalecidos.
Delza
Maceió (AL)